segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Garotos de Aluguel

Meu nome é Samira. Sou uma bem-sucedida empresária do ramo de laticínios. Meus desafetos dizem que sou uma devoradora de homens, mas não é verdade. Considero-me apenas uma caçadora. Vislumbro um alvo para saciar minhas necessidades e não sossego enquanto não o conquisto. Querem ver? Vou exemplificar contando uma situação recente pela qual passei: estava em casa assistindo televisão – tevê a cabo, entenda-se, odeio noveletas, programinhas populares e demais bobagens da tevê aberta – quando vi um comercial de creme dental que me chamou a atenção. Jovens jogando frescobol num lago, dando mergulhos, exibindo o frescor e o vigor dos seus vinte e poucos anos. Um dos rapazes me deixou fascinada: era lindo, loiro, um corpo perfeito. Tive uma vontade incomensurável de ser possuída por ele de todas as maneiras possíveis. Daria para ele de quatro, e ele fruiria cada centímetro do meu corpo sólido e bem torneado. Devo acrescentar que, não obstante ter transposto a barreira dos quarenta anos, tenho o corpo modelado por exercícios físicos diários e me cuido muito bem, controlando minha alimentação de maneira espartana. Jamais darei as mulheres de minha idade, que freqüentam a academia, os salões e as festas da high society, o gostinho de poderem dizer, pelas minhas costas, como é do feitio dessas vagabundas, que minha bunda está enorme, que sou um pudim de celulite ou que as estrias já estão tomando conta de mim.


Creio que fujo do assunto. Bom, o fato é que fiquei loucamente obcecada pelo rapaz da publicidade de pasta de dentes e comecei a mexer os meus pauzinhos para mexer o pauzinho dele. Uma mulher da minha idade que não possuísse o meu dinheiro, inteligência e vitalidade, se entregaria a devaneios e sonhos eróticos com esse homem, acordando no meio da noite toda molhada, mas se contentando em apagar o fogo da xana com o marido ou namorados machistas e inexpressivos, sempre nessa velha e mesquinha frigidez que tira todo o sentido da vida. Mas eu não. Eu corro atrás do que quero. Chequei qual agência foi a responsável pela criação e telefonei, pedindo o contato do modelo. Aleguei, para não ficar malvista, que pretendia contratá-lo para uma campanha da minha empresa. Foi moleza. Forneceram-me o número de celular dele. Liguei para o Renato, esse era o nome dele. Utilizando ainda o pretexto de seleção de casting para uma campanha da minha empresa, marquei um almoço com ele para o dia seguinte. Creio que ele tenha entendido minhas segundas intenções, pois uma empresária de grande porte como eu possui um departamento de marketing eficiente para cuidar de assuntos desse tipo. Mas nos encontramos enfim num dos melhores restaurantes da cidade e tive uma pequena decepção: achei-o mais baixo do que na propaganda de tevê. De resto, era mesmo um deus: além dos dentes perfeitos, requisito básico para um modelo como ele, o corpo era todo sarado, os olhos brilhantes e invasivos e, ao contrário da maioria dos homens que trabalham nesse ramo, Renato possuía grande cultura, inteligência e educação. Fiquei, além de transtornada de tesão, encantada com aquele homem. Mas, como é do meu estilo, fui direta. Disse: “Quero ir para a cama com você”. Ele não se mostrou surpreso, nem ofendido, tampouco constrangido. Ficou calado por alguns instantes e me disse, finalmente: “Samira, peço desculpas, mas não faço michês. Além do mais, tenho uma noiva”. Eu retorqui que jamais tinha passado pela minha cabeça que ele fizesse michês – embora muitos deles façam – mas que eu tinha uma necessidade impetuosa de que ele transasse comigo. Para enfatizar isso, por baixo da mesa, rocei minha perna na dele. É importante dizer que eu, para ter sucesso na minha empreitada, vesti meu melhor e mais provocante vestido, com um decote generoso e curto o suficiente para que ele visse minhas lindas pernas. Estava também perfumada e, quando falava, colocava no tom de voz a ênfase necessária para deixar com que aquele homem entendesse claramente todas as minhas intenções. Ficamos um bom tempo conversando, eu ousando cada vez mais, sugerindo que saíssemos dali diretamente para um motel, que eu faria tudo que ele quisesse, sacanagens que o deixariam completamente louco, que ele usaria e abusaria de todo o meu corpo. A resistência dele ia sendo vencida, afinal de contas ele era um homem e não existe nem nunca existiu um homem que pudesse resistir a uma mulher como eu. Então eu joguei a cartada final: “Vem bobinho. Vou fazer com você tudo que sua noiva não faz”. Devo admitir que foi um golpe ousadíssimo de minha parte: se ele amasse muito a noiva, poderia se ofender e tudo iria por água abaixo. Mas minha perspicácia jamais me traiu. Ele me disse, entre envergonhado e excitado: “Nunca fiz sexo anal. Minha noiva não gosta e as minhas namoradas anteriores não permitiram”. Fiquei tão comovida que tive vontade de chorar. Com esforço para não deixar transparecer minha emoção, respondi: “Então vamos. Vou dar o meu cuzinho pra você. Bem gostoso”.


Quando chegamos ao motel, foi bom. Não foi nada de outro mundo e, pra falar a verdade, já tive fodas muito melhores. O rapaz era mesmo tímido e, para minha surpresa, inexperiente. Deixei que ele fizesse o que quisesse, e ele fez um esforço descomunal para não gozar com todas as coisas que eu fazia para ele. Primeiro chupei seu pau demoradamente e com esmero, utilizando toda a técnica que possuo, engolindo até o talo, passando a língua em toda a sua extensão, da glande até a base, e depois nos testículos. Quando ele estava no ponto, deitei com as pernas bem abertas e disse: “Vem”. Enquanto ele me fodia, falava sacanagenzinhas no ouvido dele, chamava-o de “meu garanhão”, de “fodedor” e de “meu homem”. Notei que ele ficava particularmente exaltado com essa última expressão, e comecei a usá-la mais. Depois de uns vinte minutos, variando as posições, dei para ele o que lhe prometi: meu ânus. Eu também tenho a técnica perfeita para a prática do sexo anal e, quando ficava nítido que ele iria ejacular, segurava um pouco os movimentos para prolongar seu prazer. Depois de menos de dez minutos comendo meu cu, ele não agüentou mais e sinalizou que iria gozar. Pedi que ele ejaculasse na minha boca. O sêmen dele era levemente adocicado, senti vontade de engolir, mas achei que era prêmio alto demais para um rapaz que me deu um grau médio de prazer.


Quando saímos do motel, perguntei onde ele queria que eu o deixasse e, no caminho, conversamos de forma descontraída sobre vários assuntos. Chegamos ao prédio dele, ele perguntou se eu não queria subir, eu respondi que não. Então Renato perguntou-me quando nos veríamos novamente. Respondi que nunca mais. Tive um rápido momento de ternura para com ele quando me perguntou por quê, se ele tinha feito algo que eu não gostara. Argumentei que não era nada daquilo, apenas não achava prudente que nos víssemos, eu sou uma mulher conhecida, recém-divorciada, e ele tem uma noiva. Foi apenas uma aventura, nada mais. Ele balançou a cabeça afirmativamente, beijou-me no rosto e desapareceu pela porta do edifício.


Voltando para casa, me senti estranha. Mais uma vez eu tive o que queria, da forma como queria. Venci mais um jogo, era uma mulher poderosa, capaz de conquistar quem e o que quisesse. Então por que não conseguia parar de pensar em Renato, tirá-lo da minha cabeça? Tomei um banho, jantei, e fiquei na cama assistindo tevê. Quando Renato apareceu, submerso naquelas águas puras, limpas e refrescantes, não consegui conter as lágrimas. O que diabos estava acontecendo comigo?


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O gosto de uma conquista é saboríssimo, porém efêmero. Uma vez conquistado um prêmio, você já quer outro. Colecionei, ao longo da vida, namorados de todos os tipos. De todas as classes sociais. Dos mais diferentes ramos de atividades. Para alguns, dei já no primeiro encontro. Outros, cozinhei em banho-maria, para deles tirar mais vantagens e maior proveito. Com a idade que tenho, com o vigor e determinação que carrego em mim, considero-me uma mulher única, capaz de ter tudo que quero, da forma que quero.


E tive, efetivamente, tudo o que quis até então. Mas faltava uma coisa. Fui, com o passar dos anos, cedendo a um desejo voraz, até que ele se tornasse uma obsessão. Eu queria... Não sei se serei compreendida, creio que serei até discriminada ao fazer essa confissão. Mas já há algum tempo, tenho tido uma vontade incontrolável de dar para o Zé Ramalho. Não posso mais ouvir aquela voz de trovão, rascante, dizendo “pague meu dinheiro e vista sua roupa” que fico todinha molhada. Compreendi que era necessário encontrar um meio de dar para ele, sem demora. E que isso naturalmente seria mais difícil do que foi com o rapaz da propaganda de pasta de dentes. Acionei meus contatos, pessoas influentes do meio artístico. Uma delas prometeu-me um encontro com o Zé. Tratava-se de Esther, amiga de longa data e proprietária de uma casa de shows. Encontrei-me com ela em seu escritório.


“Menina, me explica essa coisa do Zé Ramalho. O que você quer com ele?”
“Você promete que não vai ter um troço?”
“Diz logo”
“Quero dar para o Zé”.


Esther encarou-me com olhar divertido e apalermado, como se achasse que eu estava brincando. Enfatizei que era sério. Que eu vinha sonhando todas as noites com Zé Ramalho, imaginando-o roçando aquela barba no meu púbis, me dizendo as coisas mais sacanas e sugerindo-me as maiores loucuras, aventuras, viagens. Era sexo, era transcendência, psicodelia, musicalidade, tesão. Tudo misturado.


“Olha, já vi gostos estranhos, fantasias bizarras e fetiches não-convencionais. Aliás, na idade em que estamos e com a vida que levamos, nada mais nos surpreende. Mas, amiga, mesmo assim estou bege!”, me disse Esther, enquanto discava um número no aparelho de telefone.
“Pra quem você está ligando?”, perguntei um pouco incomodada.


Ela não respondeu. Minutos depois, alguém atendeu e ela disse:


“Zé, tudo bem? Tenho uma amiga aqui que é uma grande fã sua. Chama-se Samira. Ela gostaria de lhe falar.”


E a filha da puta me estendeu o fone. Gesticulei desesperada. De repente, toda a segurança que sempre tive me faltou. Porra, era o Zé Ramalho! O que eu iria dizer? O que iria fazer? Esther me sussurrou “vai boba, fala com ele”.


“Alô...”
“Alô, Samira. Como vai? Esther me disse que você é minha fã. Amanhã estarei por aí. Posso lhe pagar um almoço?”


Só consegui responder que sim. Não consegui dizer mais nada. Travei, minha boca ficou seca. Era o Zé Ramalho, era aquela voz inconfundível, aquele sotaque. E eu estaria frente a frente com ele no dia seguinte. A noite toda não pude dormir. Entre nervosa, ansiosa e excitada, só me acalmei depois de me masturbar. Ouvindo, na minha cabeça, Zé Ramalho cantando só para mim: “Eu vou te jogar num pano de guardar confetes...”


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Cheguei com antecedência ao restaurante no qual combinei me encontrar com o Zé e, para minha surpresa, ele já me esperava degustando um vinho. Quando me aproximei, ele me abraçou e comentou algo sobre a minha exuberante beleza. Um galanteador. Não sei se pelo vinho ou pelo carisma que emana dele, mas o fato é que eu já não estava mais apreensiva. Conversávamos sobre música, sobre sucesso, sobre dinheiro, sobre viagens. Ele era tudo que eu esperava dele e um pouco mais. Contou-me que tinha alguns shows programados na cidade no próximo mês, disse que eu seria sua convidada de honra. E então começou a cantar sua música mais recente. Não pude me conter: lágrimas caíam de meus olhos aos borbotões. Ele se assustou e, todo solícito, estendeu-me um lenço – que eu guardaria por toda a vida – e perguntou-me o que havia. Contei-lhe tudo: que era apaixonada por ele – uma mentira calculada para chegar logo ao meu objetivo, que era dar para ele – e que desde criança sonhava com aquele dia. Pagamos a conta e fomos para o seu apartamento. Ele serviu-nos mais uma dose de vinho, colocou no toca-discos um vinil de Cole Porter.


“Então, minha pequena, me diga o que você quer de mim”, me disse, olhando nos olhos.


Pedi que ele me chamasse de “baby”, e ele cantarolou:


“Baby, baby, baby... uou ô ô ô ô…”


Fiquei alucinada. Pulei sobre ele, enlacei minhas pernas em sua cintura.


Quanto tempo falta para lhe esquecer
Quanto vale um homem para amar você?



Zé é, devo dizer, muito bom de cama. Nenhum homem me levou a um nível tão místico no sexo quanto ele. Não sei se era o homem real de carne e osso que ali estava ou se o mito que em torno dele se construiu que me levaram àquela loucura toda. E, evidentemente, o pinto dele era enorme. Fizemos, repetimos, conversamos, repetimos novamente, fumamos, demos outra. Depois eu queria mais, mais ele disse que não seria capaz nem com pílula azul.


“A idade é uma praga, meu amor”, me disse.


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No dia seguinte, eu estava nas nuvens. Sentia-me a mais poderosa e amada das mulheres da face da Terra. Era como um garotinho que depois de encher um álbum de figurinhas todo, tirava a última que faltava, mais brilhante, especial e premiada. Minha figurinha era o Zé Ramalho. Eu tinha dado para o Zé Ramalho. Estava em casa, rememorando tudo o que havia se passado, quando Esther me ligou:


“E então, amiga? Como foi com o Zé?”
“Ma-ra-vi-lho-so, Esther! Que homem perfeito! Tive uma noite inesquecível!”
“Hum, que bom. Mas você não notou nada de diferente?”, me disse Esther, entre risos.
“Como assim?”, perguntei já antevendo a desgracenta revelação que se seguiria.
“Samira... Eu te sacaneei. Aquele não é o Zé Ramalho. É o Duda Ramalho, o maior sósia do Zé Ramalho no Brasil. O verdadeiro Zé tá numa turnê em Portugal! Ha ha ha. Não acredito que você caiu...”


Desliguei o telefone na cara da cretina. Tomei um porre de Prozac, só acordei no dia seguinte. Filha da puta, tomara que morra. Que morra!

4 comentários:

  1. Comprar gato por lebre, é mais comum no sexo que se imagina. Que diga o Ronaldo, que brilha muito no Corinthians.

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  2. Vou repetir o que já falei no MSN: PUTA CRIATIVIDADE HEIN!!!
    Adorei, Rafa.
    Já estava aqui pensando como vc faria com o processo que o Zé Ramalho ia abrir contra vc... rs

    Aline

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  3. Ótimo!Muito criativo o texto,gostei mesmo!
    ^^

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