sábado, 5 de dezembro de 2009

Corinthians

Por mais que o pai tentasse focá-lo em outras coisas, só pensava em futebol. De pequeno colecionava figurinhas, tinha pôsteres no quarto do Marcelinho, Neto, Tupãzinho, Biro-Biro... Ia a todos os jogos do Corinthians, mas chegara aos 21 anos sem uma namorada que fosse. O pai era do tipo machão e temia que o filho fosse veado. Resolveu fazer o teste.

Calhou de chegar à casa Julieta, uma prima de 16 anos, vinda do interior. Malicioso, Oduvaldo viu que ela tinha grande potencial para a sacanagem e pensou: “Eis aí uma grande chance do Junior perder o cabaço”. Mas Junior, como sempre, só queria saber de uma coisa: Coringão. Mal olhava para a prima e o pensamento estava absorto no campeonato paulista, que chegava aos seus estertores. Domingo, o Palmeiras. O empate é nosso, a taça é nossa, pensava. Julieta, que por ele se interessou logo de cara, provocava. Usava roupas sumárias, aproveitando o mote da menina ingênua vinda da roça. Oduvaldo tentava compor climas, saía com a mulher, deixava os dois sozinhos. À volta, perguntava marotamente: “E então, minha sobrinha? O que vocês aprontaram?”. Fazia cara de choro quando ela dizia que nada, que Junior saíra para comprar ingresso com os amigos da Camisa 12, facção local.

Quando a esperança já estava perdida, aconteceu. Os pais saíram de casa e eles novamente ficaram sozinhos. Era o domingo da final. Julieta, para agradar, vestiu uma camisa do Corinthians do primo, que ficou larga nela. Por baixo, apenas calcinha. Suas pernas brancas e lisas, aparecendo sob o manto sagrado alvinegro, enfim pareceram despertar alguma reação no corintiano. Olhou-a profundamente, fitando longamente os seios, que na ansiedade da prima subiam e desciam num louco resfolegar, o distintivo do clube se movimentando e, enfim... Não mais puderam conter-se. Enquanto Marcelinho aproveitava uma bola que sobrou na área para fazer 1x0, ele a agarrou. Beijaram-se loucamente, avidamente. Ela ia tirar a camisa, ele pediu: “Não. Não tira.” Ela montou em cima dele, ele tirou-lhe a calcinha. Começou a comê-la, mas sentiu, desesperado, que a excitação ia diminuindo-lhe. Ela fingia não perceber, continuava os movimentos, torcendo para que o primo se recuperasse. Mas era um esforço vão. Um gol do Palmeiras, acontecendo naquele momento, terminou com tudo. Broxou. Ela procurou consolá-lo, enquanto lágrimas sinceras desciam por suas faces. “É assim mesmo, meu amor. Todos ficam nervosos na primeira vez”. Como era decidida, não desistiu. Esperou alguns minutos para que ele se recuperasse e voltou à carga. Agarrou seu pênis com as duas mãos e começou a movimentá-lo, ritmadamente. Tinha muita técnica e seu rostinho inocente não denunciava a vasta experiência que tinha atrás de cercas, pomares e igrejas na sua cidade natal. Depois de algum tempo de esforço inútil, viu que os olhos dele estavam cravados na TV, apreensivos. Veio o segundo gol do Palmeiras, a virada. Passou um infindável tempo fazendo de tudo, gastando seu repertório de sacanagens e habilidades manuais e orais. Mas nada, destruído, ele encarava o televisor. Quando Julieta ia agarrar o controle remoto e desligá-lo, uma bola de Ricardinho chegou para que Edílson empurrasse para as redes. Gol. Ele gritou, pulou, a abraçou. E, ato reflexo, pulou pra trás. Estava de pinto duro. Inexplicável, mas ela não perdeu muito tempo tentando entender. Empurrou-o para o sofá e subiu nele de novo. Depois, trocaram de posição. E foram assim, dessa vez sem parar, até que ele gozasse. Gozou no exato momento em que o Capetinha Edílson fez as famosas embaixadinhas e o jogo acabasse em pancadaria e título para o Corinthians. O êxtase era total. Era um homem.


Fato é que essa experiência, com todos os seus elementos, forjou sua rotina sexual. Passou a preferir, para transar, os dias de jogos do Corinthians. As parceiras estranhavam, no motel, que a TV ficasse ligada no futebol. Algumas não agüentaram mesmo a esquisitice e se mandaram. Mas ele seguiu assim durante algum tempo, sem pensar em se tratar e sem contar o fato para ninguém.


Em 2007, começou a namorar Regina. Uma mulher que tinha todas as qualidades, exceto uma: era palmeirense. No início, continuou com sua odisséia sexual: levou-a para motéis e transavam assistindo aos jogos. Explicou-a que só conseguia gozar assim, e ela pareceu entender. Mas a situação se complicou durante o campeonato brasileiro. Cada derrota do Corinthians significava para ele um mau desempenho sexual. A cada gol tomado pelo goleiro Felipe, correspondia uma broxada. A cada gol perdido por Lulinha, Finazzi ou Clodoaldo, outras. A situação não podia ser mais patética. Regina se esforçava, tentava criar fantasias, dizia-lhe: “Vem, me fode. Me fode como você gostaria de foder o Palmeiras”. Ele se animava, mas um segundo depois alguém cruzava bola na área do Corinthians, Betão e Zelão paravam pedindo impedimento, vinha o gol e seu pênis caía, como o Felipe dentro do gol.


Não podia terminar de outro jeito: no dia em que o Corinthians caiu pra Série B, como desgraça pouca é bobagem, Regina lhe abandonou. Ele deixou-se ficar, infeliz, deitado na cama. E pensava consigo mesmo: “Se não tivessem suspendido o Finazzi...”

4 comentários:

  1. Ver jogos do Corinthians em 2007 durante o coito não é problema mental, mas um fetiche: sadomasoquismo ferrenho.

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  2. Nem preciso dizer que chorei de tanto rir, sinceramente detesto futebol, e como o seu texto trata esse fanatismo de uma maneira leve e engraçada, não pude deixar de não gostar!
    até!

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  3. época fudida, essa!

    Mas esse cara, esse ano, deve estar metendo que é uma beleza!!

    E deve ter comprado um galpão de camisinhas para o ano que vem!!

    Abraço!!

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