sábado, 13 de março de 2010

Antes que o corpo esfrie

Dona Gertrudes esperava o leite ferver na panela quando caiu dura no chão. Seu filho Belisário encontrou-a morta assim que chegou do trabalho. Pela primeira vez em sua vida viu-se livre da presença opressora e permanente da mãe. Filho único, abandonado pelo pai, foi criado sob mil cuidados e olhares por aquela mulher austera, amargurada, neurótica, possessiva. Tinha agora trinta e dois anos e jamais ficara nu na frente de uma mulher que não fosse a mãe.

A notícia da morte da velha correu por todos os ouvidos e o velório foi um evento. Boa parte das pessoas, condoídas com a situação do pobre rapaz, compareceram para dar apoio. Outras, contudo, conhecendo o temperamento mesquinho da falecida, foram confirmar se ela realmente havia morrido e gozar a visão do corpo acondicionado no caixão, mantendo a expressão dura que carregou em seu rosto durante todos os anos de sua vida e que agora levaria para o inferno. As velhas do bairro não tinham dúvida: ela iria para o inferno.

O fato é que Belisário era um rapaz muito querido por todos. Sua timidez e educação cativaram todos os vizinhos, ao longo dos anos. Era diferente dos rapazes de sua idade. Não saía pela vila de madrugada fazendo algazarra, bebendo e desrespeitando as moças. Mais de uma senhora desejara-o como genro, mas dona Gertrudes espantava todas as pretendentes. Os homens achavam que ele era por demais afeminado, que não devia gostar da fruta. E esse era o assunto na casa de Soninha no exato momento em que acontecia o velório. Seu irmão Joaquim tentava em vão convencer a ela e as amigas Lena e Graça de que Belisário era um maricas e que a morte da mãe não mudaria seu comportamento. "Nem mesmo belas mulheres como vocês conseguiriam levá-lo para o bom caminho", disse jocosamente Joaquim. Soninha então ergueu-se e propôs uma aposta.

"Que tipo de aposta?", perguntou Lena.

"Nós três tentaremos seduzir o pamonha. Se uma de nós tiver sucesso, Joaquim terá de acompanhar a vencedora do feito ao Baile da Primavera".

"Mas e se você conseguir? Joaquim é seu irmão", lembrou Graça.

Os dois irmãos trocaram um rápido e furtivo olhar.

"Não importa", respondeu Soninha. "Ele me recompensará de outra maneira".

Todos se olharam sérios até que Lena quebrou o silêncio:

"Está bem. Particularmente acho o Joaquim um boçal, mas admito que não há pessoa melhor para me acompanhar ao baile". O desdém de Lena era mal dissimulado e todos sabiam que ela era apaixonada por Joaquim, bem como Graça.

"Estão está decidido. Vamos nos enlutar para o velório", Soninha convocou.


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Quando Soninha, Graça, Lena e Joaquim chegaram ao velório para cumprimentar Belisário, o clima geral foi de escândalo. As três jovens usavam vestidos escuros, porém decotados e provocantes. A boca de Soninha estava pintada de escarlate, e um forte perfume emanava dela e tomava conta do ambiente. Uma velha disse para outra, em tom sarcástico: "a velha Gertrudes vai sacolejar dentro da caixa".

"Meus sentimentos, Belisário", disse Soninha ao ouvido do orfão. E completou, com voz sensual: "Estou ao seu dispor, para tudo o que precisar".

"Sinto por sua mãe. Você está mais bonito nesse terno escuro", tratou de dizer em seguida Lena, para mostrar ao rapaz suas intenções. Foi suavemente empurrada por Graça, que das três era a que tinha o vestido mais decotado, deixando entrever o nascimento de seios firmes e arredondados e o matiz moreno de sua pele lisa e brilhante. Disse-lhe, também num sussurro ao pé do ouvido:

"Livre-se dessa gente e me encontre nos fundos. Vou fazer coisas muito agradáveis para você".

Belisário a cada um desses cumprimentos mostrou-se surpreso e inibido. Respondia um "muito obrigado" quase inaudível, olhando para o chão e dando a impressão de que iria fugir correndo a qualquer momento. Joaquim, que olhava a cena divertido, aproximou-se.

"Pois é, meu camarada. A tua velha morreu, mas você está vivo. Pode contar comigo, Joaquim de Mattos, como o teu mais novo amigo". E virando-se para os presentes, disse em voz alta:

"Peço desculpas aos senhores, mas vou monopolizar a atenção do Belisário por um minutinho".

Puxou-o pelo braço, em direção aos fundos da casa.

"É, é isso aí. Isso aí. Você fuma? Não? Pega, é um charuto. É especial para este momento, pega".

Belisário recusou, mas Joaquim enfiou-lhe o charuto na boca, depois de morder ele mesmo a ponta para cortá-la, e acendeu com um pálito de fósforo. Belisário teve um acesso de tosse e Joaquim o observou sorrindo até que cessasse. Então disse:

"Vou ser direto com você, meu camaradinha. Eu sou um homem de negócios, muito prático, e resolvo as coisas sem muito embaraço. Apostei com essas três aí que você é veado. E sei que você é veado, todo mundo aqui sabe". Ficou em silêncio um instante observando a reação de Belisário, que o olhava assustado, e continuou: "Elas vão me pagar uma garrafa de uísque se tentarem te beijar e você der chilique. Porém, se você mostrar pra uma delas algum sinal da sua, digamos, masculinidade se manifestando, eu vou ter que levar a moça em questão pra um baile idiota e depois papar a 'sortuda'. Só que eu já tenho uma mulher pra papar nesse baile, e ela é muito melhor do que as amigas bobas da minha irmã. Então eu quero que você apenas cumpra com o que sua natureza já conhece: quando elas vierem, uma depois da outra, fazer graça pra você, comece a chorar. Ou então saia correndo. Ou então diga algo como 'o que é isso, senhorita? Pelo que está me tomando?' É boa essa frase, não é? Não é frase de bichona? Ha ha!"

Belisário continuou olhando assustado para Joaquim, sem dizer palavra. Meneou a cabeça afirmativamente quando este sussurrou com voz dura em seus ouvidos a advertência final de que contava com ele.


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Assim que voltaram para a sala e Belisário novamente se postou ao lado do caixão, lentamente Graça se aproximou dele. Sentou-se no seu colo e começou a beijar-lhe o pescoço. Todos no recinto, atônitos, observavam a cena. Belisário gaguejou: "A se-senhorita está louca... Estamos no velório de minha mãe..."


"Eu quero você esta noite. Pouco me importa a puta de tua mãe. Vem, vou te dar meu sexo, depois vou te dar meu ânus, vou te lamber todinho, vamos subir para o quarto que eu vou fazer você esquecer tudo e te dar muito prazer". Graça, enquanto sussurrava essas palavras, pensava em Joaquim, lembrando-se do corpo dele, de seu pênis rijo que ela segurou com as duas mãos, de como ele a obrigou a aplicar-lhe sexo oral, agarrando sua cabeça com força, puxando os seus cabelos. Ela queria passar de novo por aquilo, beber novamente o sêmen de Joaquim, fingindo-se horrorizada quando ele mais uma vez a obrigasse a isso. Mas Joaquim, nos últimos tempos, só a esnobava. Só saía com mulheres mais velhas, geralmente abastadas, que o sustentavam sem que seus pais soubessem. Imaginando Joaquim, Graça enfiou a língua no ouvido de Belisário, que tremia e quase chorava. Foi puxada por Lena, que disse em voz alta:


"Estás louca? O que está fazendo?", e puxando Belisário pelo braço: "Venha, ela está fora de si. Vou levá-lo para um lugar onde possa recompor-se". Soninha e Joaquim, que olhavam a cena sorrindo discretamente, entreolharam-se e seguiram os dois.


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Lena levou Belisário pelo braço até o quarto, como se faz com uma criança. Lá chegando, antes de abrir a porta e entrar, tirou toda a roupa. Belisário, em estado de choque, deu um passo atrás. Lena pegou sua mão e conduziu-a até seu seio esquerdo.

"Pega. Isso. Você gosta? Não é macio?"

Belisário retirou a mão com força e desceu as escadas correndo. Lena atrás dele. Cruzaram na volta com Joaquim e Soninha, que subiam as escadas para ir ao encontro deles. Surgiram na sala, Lena nua em pêlo. Aquele escândalo insólito gerou um grande burburinho de vozes, gritos e interjeições de espanto. Uma senhora desmaiou com a cena. Outras começaram a deixar a sala. Ficaram apenas Belisário, Lena, Graça, Soninha e Joaquim, e alguns homens soturnos, que observavam a tudo com curiosidade interior.


Lena avançou na direção de Belisário, que recuou até bater de encontro ao caixão da mãe. Acuado, nada pôde fazer quando a mulher começou a abrir-lhe os botões do paletó, depois a camisa. Graça chegou por trás dele, despindo-se também, e beijando-lhe o pescoço, a orelha, e finalmente a boca, com sofreguidão, fazendo-lhe engolir o beijo como ele outrora engolira a fumaça do charuto. Joaquim observava a cena com expressão libertina e, ao olhar para o lado, viu que a irmã estava sentada próxima, com um dos seios à mostra e a mão por baixo da saia, tocando-se. Disse-lhe: "Verás agora a revelação de que lhe preveni. Ele vai rejeitar as moças, vai mostrar a plenitude de sua veadagem. Veja". E para Belisário: "Meu camaradinha, acabe logo com isso. Diga logo para as damas que você não gosta do que elas tem para lhe oferecer".


Belisário então desvincilhou-se das duas, que já tinham lhe tirado o paletó, a gravata, as calças e a camisa, deixando-lhe só de cuecas. Virou-se para Joaquim, abaixou a cueca, balançou na sua frente seu enorme pau totalmente duro e disse, com ar raivoso:

"Te parece, idiota, que eu não gosto disso? Você sabe por quanto tempo eu esperei essa putaria?"

Dirigiu-se em seguida para Graça, que posicionou de costas para ele, com as mãos apoiadas na alça do caixão de dona Gertrudes, e penetrou-lhe com vontade, dizendo em voz alta os maiores absurdos, apertando-lhe as coxas, arranhando-lhe as costas e dando tapas sonoros nas nádegas. Enquanto comia esta, pediu para Lena lhe lamber o cu, o que ela fez prontamente. Soninha vendo tudo masturbou-se com ainda mais vontade, gritando os nomes mais sujos, sentindo-se observada pelo irmão e pelos homens soturnos que tinham permanecido na casa. A essa altura, tanto Joaquim quanto os desconhecidos já se masturbavam calmamente, gozando aquela situação grotesca. Belisário permanecia muito sério e agora mudo. Após fazer Graça gozar, se encarregou de comer Lena, também apoiada no caixão, mas de frente para ele, com as pernas bem abertas.


Graça foi ao encontro de Joaquim e, de joelhos na frente dele, lambeu-lhe demoradamente o pau. Os homens soturnos rodearam Soninha e se masturbaram ao redor dela, vendo-a masturbando-se. Soninha gritava, Lena gritava, Graça - agora sentindo-se feliz enquanto era enrabada por Joaquim - gritava e apenas Belisário e os homens soturnos permaneciam sérios e mudos. Belisário, sentindo-se aproximar o êxtase do primeiro desabrochar de sua vida, por tanto tempo aguardado em segredo, agarrou Lena pelos cabelos e colocou-a de joelhos em sua frente. Lambuzou-a toda com seu jorro. Ao mesmo tempo, Soninha teve o corpo marcado pelo jorro dos homens soturnos, e seu irmão Joaquim despejava sêmen no abdôme de Graça, após ela ter implorado para recebê-lo na boca. Todos ainda arfavam e mudos imaginavam o que se passava na cabeça de cada um, quando ouviram um barulho no caixão, que se movimentava, seguido de um grito:

"Belisário. O que significa isso?"

Soninha, Graça, Lena e Joaquim gritaram de horror ao ver a velha Gertrudes levantando-se do caixão. Os homens soturnos, pela primeira vez até então, sorriram. Belisário disse: "Mamãe, eu posso explicar". Apanhou um candelabro ao alcance de sua mão e bateu-o com força na cabeça da ressurreta, que caiu desacordada no caixão.

"Velha do caralho. Que vá pro inferno", disse dando um tapinha na nádega de Lena.

O velório varou a madrugada e gemidos profundos quebraram o silêncio da noite e da morte.

5 comentários:

  1. Sou uma fã confessa de todos os contos, mas devo dizer que esse foi sem dúvidas o MELHOR que já li aqui!!
    Até!!

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  2. Realmente, se realiza ao escrever estórias para essa blog, não?!
    rsrsrs

    Parabéns, velho camarada!

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  3. Realmente, se realiza ao escrever estórias para essa blog, não?!
    rsrsrs

    Parabéns, velho camarada!

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  4. Nossa Rafa, muito bom. Muito bom mesmo. Me arrisco a dizer que é o primeiro texto seu que eu acho que realmente tem a ver com a essência do blog. Excelente!!!

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