terça-feira, 26 de outubro de 2010

Corpo a Corpo

Um Romeu e Julieta dos novos tempos. Com menos glamour, uma família mais numerosa, formada por correligionários, mas o pano de fundo nos remete ao romance Shakesperiano.
Nilma, uma mulher forte, autoritária e viúva. Bem nascida, ingressou na política durante o Golpe Militar e tomou gosto pela coisa, se tornando referencial no país. João, um homem pacato, casado e pai de dois filhos adultos. De origem pobre, se tornou militante estudantil na década de 60, quando ingressou na faculdade. E lá a conheceu.
Viveram um romance tórrido. Entre um protesto e outro, a ditadura endurecia mesmo. Ficaram conhecidos como “casal do golpe de 69”.
Quando as coisas ficaram difíceis para os jovens políticos, ele foi para a Itália. Ela, que sempre teve uma personalidade mais forte, ficou no Brasil e acabou sendo presa. Trocaram seus nomes, perderam o contato e nunca mais se ouviu falar no “casal do golpe de 69”.
O tempo passou e, 30 anos depois, o destino deu conta de promover o reencontro, porém em lados opostos da política. Agora já era tarde: partidos rivais, líderes inimigos e ideais diferentes. Estavam tão diferentes que, a primeira vista, não se reconheceram. Porém o insensato destino guiou-os pelo caminho da eleição presidencial e promoveu o reencontro no primeiro debate em TV aberta. Nilma não acreditou no que seus olhos viam. O olhar cansado e a careca lustrosa em nada lembravam aquele jovem João de 30 anos atrás. E João, fitando os olhos naquelas ancas largas e seios fartos, não acreditava que a Nilminha que deixava a dita-dura estava ali, na sua frente. Lembraram dos tempos de militância juvenil, que sempre terminava em sexo. De companheirismo e reciprocidade política e sexual. E agora estavam ali, em lados opostos, buscando um prazer individual.
Cumprimentaram-se com um beijo seco, mais um toque de bochechas que propriamente um beijo. Afinal, o que seus companheiros de partido fariam se soubessem que eles tiveram um caso de amor? Limitaram-se ao discurso pronto, com farpas para todos os lados. Mas não deixaram de pensar um no outro, nem por um minuto. Entre uma réplica e uma tréplica, João se lembrava daquela menina rebelde rebolando no seu pau e gritando palavras de ordem. Nilma era uma porra-louca mesmo, ele sabia disso. Da mesma forma que era politicamente ativa, o era no sexo. Ela tomava as decisões e manuseava seu pau como ninguém. Assim como protestava altivamente no microfone, chupava com maestria o microfone de João. Ele, meio tímido, mas não menos ativo, também gostava de dominar a situação. Puxava Nilma pelos cabelos para trás de qualquer palanque e fodia intensamente, como se aliviasse ali sua revolta com o sistema.
E agora estavam frente a frente, sem poder se tocar. João mal conseguia se concentrar nas perguntas e, antes do final do primeiro bloco do debate, já estava com seu membro rijo, em ponto de bala. Nilma lançava-lhe um olhar perverso, que ele conhecia muito bem, e o instigava cada vez mais. As respostas começaram a sair desconexas, os membros dos partidos não entendiam como aquele debate tinha descambado para assuntos pessoais e fora do contexto. Nilma sabia bem como provocar João, só não sabia que o tempo fora do país o tinha tornado um homem mais selvagem que aquele garoto de trinta anos atrás. Foi quando no terceiro bloco de perguntas, o inacreditável aconteceu. Cada candidato faria uma pergunta com tema livre. Trinta segundos para a pergunta, um minuto e meio para a resposta, um minuto para réplica e um minuto para a tréplica. Segundo sorteio realizado, João começaria perguntando:
- Nilma, em um minuto e meio, você é capaz de me fazer gozar como antes?
Todos estarrecidos na bancada. O cronômetro zerou os trinta segundos. Contagem regressiva para um minuto e meio. Nilma, com toda sua classe, chegou à frente de João, baixou suas calças e começou a chupar com maestria. A platéia se calou. Nilma lambia, enchia a boca e largava rápido, olhando para o cronômetro. Zerado o um minuto e meio, João confessou que a candidata quase cumpriu seu papel, mas era hora da réplica. João colocou-a de quatro na bancada e começou a comê-la ali. Puxava seu cabelo e enfiava com força, como não fazia há tempos. Na hora da tréplica, Nilma se lembrou de como eram conhecidos na época da Ditadura: “Casal do Golpe 69”. Um minuto de meia nove e um país inteiro estarrecido.

A emissora de televisão saiu do ar e ambos foram expulsos dos partidos, não por terem fodido em rede aberta, mas por se esquecerem que era pra ter fodido com o povo Brasileiro.

3 comentários:

  1. Liliane,
    Curti pra caramba o seu texto: SENSACIONAL; supercriativo e muito REAL - gostei das porradas neles!!! Parabéns!!!

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  2. Poxa, obrigada! Me sinto lisonjeada.
    Vamos ver se sai o livro...rs.

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