domingo, 18 de abril de 2010

As pernas do Roberto

Ana é uma mulher como tantas outras. Moradora da periferia paulistana, trabalha como doméstica e é apaixonada pelo Roberto Carlos. Seu sonho é ver de perto as pernas dele. A tietagem virou idolatria, a idolatria virou obsessão e Ana passou a perseguir Roberto Carlos onde quer que ele estivesse. Se soubesse que ele desembarcaria em São Paulo, lá estava Ana um dia antes aguardando ansiosamente. E, quando via de longe o tumulto que indicava a presença de seu muso inspirador, Ana gritava: “Roberto, mostre as pernas!”

João é um homem como tantos outros. Morador da periferia paulistana, trabalha como pedreiro e é apaixonado por futebol. E por mulheres. Seu sonho é encontrar uma mulher para chamar de patroa. Boa praça que é, João é muito conhecido e respeitado na região de Heliópolis e é este conhecimento que gera a maior parte de seu sustento, pela indicação de conhecidos. Em uma dessas indicações João foi chamado para auxiliar na reforma de uma mansão no Morumbi. Mas não era qualquer mansão, e sim a mansão do jogador Roberto Carlos.

João trabalhava muito feliz e ganhava mais do que de costume. Aos finais de semana, João freqüentava o forró Ás de Ouro e em uma dessas idas conheceu uma bela morena que dançava o Arrocha na pista:

- Oi buniteza, qual sua graça?
- Ana. Disse ela, abrindo um sorriso sincero.
- João, seu criado. Nunca te vi por essas bandas.
- É que trabalho bastante. Sou doméstica e só dá pra mim vim uma vez por mês, cê sabe né?
- Ah, tendeu. Eu sou mestre. De obras. Trabalho na mansão do Roberto. Roberto Carlos, né, mas não gosto de ficar assim me gabando.

Neste momento os olhos de Ana brilharam e ela teve a reação mais nonsense de sua vida. Virou-se para João e disse: - Eu te amo.
João, sem entender, só teve tempo de agarrar a dama pela cintura e levar até o toillete. Lá ele só se deu ao trabalho de abrir sua braguilha e sentar no vaso. Ana já havia tirado a calcinha por baixo da saia e sentou com força naquele membro rijo, fazendo movimentos frenéticos, talvez excitada por ter ouvido o nome de Roberto Carlos. Os gritos de gozo foram abafados pela banda de forró que gritava no palco e em menos de dez minutos eles já estavam de volta à pista, aos abraços e beijos.

Os dias foram passando e o casal estava cada vez mais apaixonado. Eles se encontravam às sete da noite todos os dias, em frente ao boteco do Bigode e lá João contava como tinha sido seu dia na mansão de Roberto e dava detalhes da casa, enquanto Ana se imaginava lá dentro, com o próprio Roberto Carlos. A conversa sempre acabava em sexo, onde quer que fosse. Um tesão incontrolável tomava o corpo de Ana e ela nem esperava chegar em casa, já começava a se esfregar em João no meio da rua. Certa vez, de tão excitada que estava, Ana chupou João dentro do ônibus, no último banco. João percebeu que o cobrador viu e nunca mais deixou Ana andar sozinha naquela linha.
Próximo a completar um mês de namoro, João queria fazer uma surpresa a Ana. Queria algo grandioso, que marcasse aquela data e mostrasse a ela o quanto ele desejava tê-la como “patroa”.

João teve uma idéia: apresentar Ana a Roberto Carlos. Mas como? Não queria que o chefe percebesse que ele era um paga pau dele, pois pegaria mal. Também não queria comprometer seu trabalho, afinal faltava menos de um mês pra ele receber a outra metade do dinheiro da reforma. João passou uma noite em claro, pensando em como presentear sua amada e teve uma idéia. Ligou logo cedo pra Ana:

- Coração, sábado a gente faz um mês junto né? Vou te levar num lugar que você nunca vai esquecer.

Chegado o grande dia. Às seis e meia, João pegaria Ana em frente o boteco do Bigode. Era sábado e João trabalharia até o meio-dia. Naquele dia Roberto Carlos chegaria cedo dos treinos, pois não jogaria no final de semana. João terminou seu trabalho, tomou banho e deu início ao plano mais bizarro já arquitetado por um apaixonado. Ele sabia que aos sábados, depois que ele e seu colega pedreiro saíam, as únicas pessoas que permaneciam na casa era o segurança, a cozinheira e dois cachorros enormes, além do próprio Roberto. João começou rendendo o segurança com uma gravata, e como o mesmo reagiu, não teve outro jeito: João feriu o homem com uma facada nas costas. Os cachorros começaram a latir e logo João teve que dar um fim neles também. Faltava a cozinheira. João foi até as dependências dos empregados e Dona Célia estava tomando banho, aí foi moleza. Em poucos minutos o corpo da senhora de quarenta e poucos anos fazia companhia ao do segurança.

João ainda aguardou na guarita e, quando Roberto Carlos chegou, fez questão de abrir o portão automático. Logo foi até ele e, com uma punhalada, o deixou desacordado, o que permitiu que João o levasse até o quarto e o algemasse na cama.

Seis e meia e João estava no boteco do Bigode, esperando sua amada. Ana chegou perfumada e com o batom vermelho que comprara especialmente para aquela ocasião. João fez questão de ir de taxi até o local da surpresa. Quando chegou à mansão, João vendou os olhos de Ana e a guiou até o quarto de Roberto Carlos, onde o mesmo estava algemado na cama. A intenção de João era que sua amada conhecesse o ídolo e ficasse tão excitada que fizesse qualquer coisa por ele naquela noite.

Quando entraram no quarto, João tirou a venda dos olhos de Ana. E lá estava a cena: João querendo impressionar sua amada, Roberto Carlos amordaçado e algemado na cama, e Ana estarrecida.

- Quem é este careca, bem?
- Ué coração, seu ídolo, Roberto Carlos. Esta é a surpresa: eu, você e o Roberto olhando a gente se amar. E eu deixo você sentar na perna dele viu? Hoje a noite é sua.
- Não, bem, você não entende. Eu não sei quem é esse careca. Olha meu senhor, peço desculpas pelo acontecido. Meu sonho é sentar na perna do Roberto Carlos, o rei, o cantor.
- O cantor?? Porra, Ana, ele tem perna mecânica! Você sabe o que eu fiz pra te fazer essa surpresa?
- Desculpa bem, mas você nunca me perguntou. E sinceramente, eu nunca vi esse careca aí, nem sei se ele sabe cantar “As Curvas de Santos”.
- E esse careca aqui, você viu? Disse João, tirando o pau pela braguilha e balançando.
- Esse careca aí eu conheço, conheço bem. Nunca vi cantando,mas o dono dele sempre me canta.
- Então vem dançar pra ele, minha gostosa.
Ana e João começaram a se esfregar ali, no quarto de Roberto Carlos, enquanto o jogador permanecia algemado e amordaçado na cama. E Ana disse:
- É “seo” careca, é assim, o côncavo e o convexo, nosso amor no sexo.


Por Liliane Akamine

4 comentários:

  1. Belíssimo texto dona. Não lhe cabe nem nas vírgulas invejar outros por aí.Vi aí um roteiro para um curta metragem. Seria interessante "audiovisualizar" esse conto. Trabalho com roteiros...caso se interesse, entra em contato.

    thiagovinnicius@hotmail.com

    Até!

    ResponderExcluir
  2. Concordo, realmente daria um belo roteiro!

    ResponderExcluir
  3. Que conto diferente.. mas eu gostei. Confesso que no inicio da postagem eu pensei " aff que postagem grande.." mas depois fui lendo e terminei sem nem notar. Você escreve muito bem.

    Bem que a Ana poderia ter aprobeitado o Roberto Calos disponovel e ter dado uma sentadinha na perna dele né? A do jogador deve ser bem mais confortável do que a do Propulsor da jovem guarda.. rsss

    se quiser conhecer meu cantinho, fique a vontade.

    http://coracaoonline.blogspot.com/

    Sucesso com o blog
    =*

    ResponderExcluir
  4. Muito bom! Gostei da linguagem que usou, lili. parabéns!

    ResponderExcluir